A defesa dos direitos humanos é uma tarefa que ultrapassa fronteiras e instituições formais. Nesse cenário, as organizações não governamentais (ONGs) e os movimentos sociais desempenham papel essencial, atuando como pontes entre a sociedade civil e o poder público, e garantindo que as demandas de grupos historicamente marginalizados sejam ouvidas. A partir de diferentes estratégias — como advocacy, mobilização e assistência — essas entidades têm sido fundamentais na construção de um mundo mais justo e igualitário.
Historicamente, o surgimento das ONGs está relacionado à necessidade de ação independente dos governos. No século XX, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, organizações internacionais como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch se consolidaram como referências globais na denúncia de violações de direitos humanos, torturas e perseguições políticas. Elas contribuíram para ampliar a consciência pública sobre injustiças e pressionar Estados a adotar medidas protetivas e políticas mais humanas.
No Brasil, o movimento das ONGs ganhou força a partir do período de redemocratização, na década de 1980, quando o país buscava superar as marcas deixadas pela ditadura militar. Entidades como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Central Única das Favelas (CUFA) e o Instituto Marielle Franco se destacaram como exemplos de resistência e luta por direitos fundamentais. Essas organizações ampliaram o debate sobre cidadania, terra, moradia, segurança pública e igualdade racial e de gênero.
As ONGs e movimentos sociais atuam de forma diversificada, combinando estratégias de advocacy, assistência jurídica, campanhas e mobilização popular. O advocacy, por exemplo, consiste em influenciar políticas públicas e decisões governamentais por meio do diálogo institucional, produção de dados e pressão política legítima. Essa prática busca transformar as estruturas que produzem desigualdade, garantindo que as vozes da sociedade civil tenham peso nas decisões que afetam a coletividade.
A assistência jurídica e social também é um eixo central da atuação dessas entidades. Muitas ONGs oferecem apoio gratuito a vítimas de violência, discriminação ou violações de direitos, especialmente em contextos onde o Estado é ausente ou ineficiente. Essa atuação garante o acesso à justiça e reforça o princípio da igualdade de todos perante a lei. Além disso, campanhas educativas e mobilizações públicas fortalecem o engajamento social e despertam a consciência coletiva sobre temas que afetam comunidades inteiras.
Os movimentos sociais, por sua vez, possuem um caráter mais orgânico e popular. Eles nascem da necessidade de organização das próprias comunidades diante de injustiças estruturais. No Brasil, o MST luta pela reforma agrária e soberania alimentar; o movimento negro combate o racismo e a desigualdade racial; o movimento feminista reivindica direitos e combate a violência de gênero; e as mobilizações LGBTQIA+ buscam o reconhecimento da diversidade e o respeito à identidade. Esses movimentos são expressões vivas da democracia participativa.
Ao longo das últimas décadas, tanto ONGs quanto movimentos sociais consolidaram-se como instrumentos de mudança e resistência. Sua força está na capacidade de mobilizar pessoas, dar visibilidade a pautas negligenciadas e construir alternativas concretas. Em muitos casos, suas ações foram decisivas para conquistas históricas, como a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), da Lei Maria da Penha e da Política Nacional de Direitos Humanos.
Contudo, essas organizações enfrentam grandes desafios em sua trajetória. A falta de recursos financeiros é um dos principais obstáculos, pois muitas dependem de doações, editais e financiamentos externos. Além disso, há um crescente processo de criminalização e deslegitimação das ONGs e movimentos sociais, alimentado por discursos que tentam associá-los a interesses políticos ou subversivos. Essa tentativa de silenciamento ameaça a pluralidade democrática e o próprio direito à livre organização social.
Outro desafio importante diz respeito às ameaças e violências contra ativistas. Muitos defensores dos direitos humanos no Brasil e no mundo sofrem perseguições, intimidações e até assassinatos em razão de suas lutas. Casos como o assassinato de Marielle Franco, em 2018, evidenciam os riscos enfrentados por quem se dedica a transformar realidades marcadas pela injustiça. Garantir a segurança desses defensores é essencial para manter viva a chama da resistência social.
Apesar das dificuldades, as parcerias entre sociedade civil e governo têm se mostrado fundamentais para ampliar o alcance das ações em defesa dos direitos humanos. A cooperação pode ocorrer por meio de conselhos participativos, convênios, comissões e fóruns de debate. Quando o poder público reconhece a importância do diálogo com as organizações civis, políticas mais eficazes e inclusivas podem ser construídas. Essa integração fortalece a democracia e garante que as decisões públicas estejam mais próximas das necessidades reais da população.
É importante destacar que o trabalho das ONGs e dos movimentos sociais também promove transformações culturais profundas. Ao educar, mobilizar e conscientizar, essas entidades contribuem para a construção de uma cultura de paz, solidariedade e empatia. Elas ajudam a desconstruir preconceitos e a promover valores baseados na dignidade humana, fomentando o respeito às diferenças e à diversidade como pilares de convivência social.
Em síntese, as ONGs e os movimentos sociais são pilares essenciais da defesa dos direitos humanos. Sua atuação complementa e, muitas vezes, supre as falhas do Estado, tornando-se uma força indispensável para a construção de uma sociedade mais justa. Defender essas organizações é defender a própria democracia, pois são elas que mantêm viva a esperança, a resistência e a luta por um mundo em que todos possam viver com liberdade, igualdade e respeito.